8.7.10

Proposta 1 - Memória Descritiva

Elementos Básicos da Comunicação Visual

O meu trabalho faz uso de apenas três elementos básicos da comunicação visual: o ponto, a direcção e a cor.
O ponto, por si só é a unidade mais simples da comunicação visual e, para além disso, tem uma força de grande atracção para o olho humano, o que o torna, por excelência, um objecto de referência e um marcador espacial.
O meu trabalho faz uso de uma estratificação em cinco partes, o que pretende dar a ideia de uma evolução, primeiro ascendente e depois descendente. Em conjunto, os pontos têm capacidade de se conectar, acabando por direccionar o olhar, funcionando, assim, como meios de percepção de solidão e melancolia (relativamente aos pontos separados) e de multidão e euforia (relativamente ao amontoado de pontos). Isto ainda é reforçado pela própria letra da música: “I got lost, got sidetracked”; ”Everything hurts,/everything's too real”, que expressam melancolia e “ Tonight I feel it closer/And I can almost touch it/ To you this may be nothing, It's something to me/This raging light”, que expressam a euforia.
Desta forma, o primeiro estrato contém um diminuto número de pontos, pondo em evidência o carácter mais calmo da música, que se intensifica no segundo estrato, o que é perceptível pelo aumento do número de pontos, que têm como objectivo transformar a sensação auditiva numa sensação visual. Este esquema continua: a parte mais intensa da música, o terceiro estrato, é o auge da música, daí que tenha utilizado o ponto para tentar criar esta ideia de multidão, euforia, de clímax. A partir daqui, a música toma um ritmo decrescente, visualizável através da diminuição do número de pontos, até que no quinto e último estrato se verifica um retorno ao carácter inicial.

A direcção é, também um elemento básico de comunicação visual que, servindo-se de outros elementos e técnicas da comunicação visual, condiciona a nossa percepção em termos da análise espacial da imagem. Assim, na forma rectangular, a ideia de evolução é reforçada pela direcção vertical, ou seja, o observador analisa a imagem de baixo para cima, atribuindo assim significado à evolução. Quanto ao círculo, a ideia é a mesma, mas adaptada a um formato de direcção radial.

O terceiro e último elemento utilizado neste trabalho é a cor, conhecida por ser o elemento básico de comunicação visual a que mais facilmente se associa um significado. Deste modo, cada estrato que utilizei, tem cores a ele associadas. O primeiro e o quinto estratos têm sempre pontos de cor branca, já que esta cor reflecte a neutralidade, o que há de mais simples e de mais básico e que, significa, de acordo com a música, o que há de mais vazio, a solidão. No segundo estrato, adoptei cores suaves, desde os brancos aos cinzentos, isto porque, como a música cresce, deixa de se percepcionar apenas o branco, mas aparecem outras cores muito suaves, ainda muito “tímidas”. No terceiro estrato, como já referi, o auge da música, são adoptadas todas as cores, destacando-se os vermelhos e amarelos, que têm uma maior carga emocional, enérgica e provocadora, reflectindo o clímax; e os azuis e verdes que, por si mesmas, são cores tranquilizantes e passivas. No quarto estrato, não totalmente igual ao segundo, para além das cores neutras, tem ainda rosas, azuis, verdes e amarelos muito claros, que o distinguem do segundo estrato, já que começa a haver uma descensão ainda que com alguns vestígios do apogeu da música. O quinto e último estrato volta a reflectir as ideias do primeiro.

Técnicas de Comunicação Visual

As técnicas visuais são fundamentais para exprimir, visualmente, o conteúdo da mensagem. Embora diferentes, todas elas conseguem coexistir na perfeição, complementando-se.
As técnicas que utilizei são: instabilidade, assimetria, irregularidade, complexidade, economia, espontaneidade, acento, variação, justaposição, sequencialidade, episodicidade.

Instabilidade: a minha composição caracteriza-se por ser instável, ou seja, não há um equilíbrio que defina um centro de gravidade, mas sim um aglomerado de pontos, mais ou menos dispersos, que acaba por realizar uma fórmula visual pulsante, enérgica, inquietante;

Assimetria: em termos conceptuais, esta técnica define-se por ser o contrário da Simetria, ou seja, caracteriza-se pela ausência de equilíbrio axial. Destaca-se na nossa imagem o facto dos pontos que a constituem se disporem de forma aleatória dentro de cada um dos estratos definidos, não havendo assim qualquer efeito de “espelho”, reflexo;

Irregularidade: uma composição irregular pretende transmitir uma ideia de algo insólito, imprevisível, inesperado, possuindo algum “efeito surpresa”. Com a estratificação da minha composição, enfatizo este aspecto, já que os estratos, consoante o seu significado e simbologia, são diferentes, quer em termos cromáticos, quer em termos espaciais (disposição dos pontos);

Complexidade: embora aparente, a composição em causa não tem nada de simples, mas até de bastante complexo, já que apresenta um processo de organização do significado muito intrincado. Mesmo fazendo apenas uso, de uma forma mais directa, de meros pontos coloridos, a sua disposição espacial e simbologia de cores confere à imagem uma complexidade irrefutável;

Economia: estes aparentes “meros pontos coloridos” que constituem a nossa imagem são a razão pela qual posso dizer que fiz uso desta técnica. A Economia caracteriza-se por realçar aquilo que é visualmente elementar, os aspectos mais básicos, puros que, neste caso, não são nada mais, nada menos do que os “meros pontos coloridos”. Passamos a nossa mensagem sem grandes ornamentações ou efeitos, baseando-nos numa política mais minimalista;

Espontaneidade: como já havia referido, a estratificação que constitui o plano de organização da nossa composição tem uma grande carga simbólica, pretendendo, de um forma natural e impulsiva, transmitir diferentes estados emocionais (segundo até uma dada evolução). E sendo tão importante esta faceta simbólica, a minha imagem vive assim de uma espontaneidade, arrebatadora, e embora caracterizado por um desenho progressivo, este não é, de todo, logicamente previsível;

Ênfase: num fundo negro, através das cores dos pontos, enfatizei as diferentes zonas em que se divide a nossa composição, pretendo assim criar áreas de maior e menor destaque. O fundo negro acaba por funcionar como uma plataforma uniforme, onde se destacam estes pontos, com grande intensidade. E assim é utilizada a técnica da Ênfase, afastando-se da tendência equilibraria da Neutralidade;

Variação: esta técnica caracteriza-se por, dentro de uma temática dominante, criar diversidade e variedade, o que se reflecte na nossa composição pela irregularidade cromática e espacial dos pontos;

Justaposição: a Justaposição não é mais do que a promoção da interacção de estímulos visuais, suscitando a comparação relacional entre os elementos básicos da imagem. Ora, a interpretação visual desta composição baseia-se exactamente na comparação das zonas de pontos que definem a área da imagem, justapondo-se, exactamente, diferentes sensações (visuais e emocionais) sucessivas;

Sequencialidade:
esta é, provavelmente, a técnica de Comunicação Visual mais evidente no nosso trabalho. Afinal, é a sequencialidade dos estratos de pontos, mais ou menos coloridos, mais ou menos dispersos, que define a mensagem simbólica e rítmica da música; tudo isto é feito através de um esquema, uma ordem lógica;

Episodicidade: por excelência, a Episodicidade é a técnica que reforça o carácter individual das partes constitutivas de um todo, não diminuindo as conexões, mas reforçando o aspecto global. O esquema da nossa composição encontra-se dividido em zonas simbólicas, com um carácter individual, mas sem nunca descurar a mensagem global da música de um desfilar de sensações, mais ou menos intensas.

Concluindo,

a verdade é que, tal como diz o ditado: Uma imagem vale mais do que mil palavras. Porém, quando falamos na construção de uma imagem, na elaboração de uma composição, é fundamental que essas “mil palavras” surjam quase que instantaneamente a partir da observação do objecto visual.

Assim sendo, a função do designer de comunicação reside em tornar a sua composição, muito para além dos aspectos gráficos por si mesmos, numa imagem clara em significados e simbologias. Depois, cabe ao observador a finalização da composição em todos os seus propósitos, fazendo somente uso dos olhos e da mente. E tal realidade é clara, Caleb Gattegno disse-o, em Towards a Visual Culture:

A vista, embora a usemos com toda a naturalidade, ainda não produziu a sua própria civilização. A vista é veloz, compreensiva e simultaneamente analítica e sintética. Requer tão pouca energia para funcionar, que trabalha à velocidade da luz, permitindo às nossas mentes receber e conservar um número infinito de unidades de informação numa fracção de segundo.

Com esta composição, baseada em elementos muito simples e técnicas visuais claras e directas, pretendi transformar a This ranging light numa imagem, como se de uma mutação som-imagem se tivesse tratado. Com o jogo de cores e disposição espacial dos pontos, quis reflectir o espírito psicadélico, frenético e futurista da música e do próprio estilo do David Fonseca, sem descurar a evolução rítmica da música e a própria mensagem. A mensagem de uma atitude perante algo ou alguém, que nuns momentos acaba por ser derrotista e melancólica, para depois dar lugar também à euforia, à despreocupação e ao êxtase do viver o momento.

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