8.7.10

Proposta 2 - Álvaro de Campos


Álvaro de Campos é talvez o mais complexo dos 3 heterónimos aqui abordados. Ao longo da sua existência, passa por 3 fases: a sensacionista, a futurista e a decadentista. Todas elas muito diferentes, o que vai reflectir uma oscilação de sensações, sentimentos e pensamentos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!

Uma vez que os versos citados pertenciam à Ode Triunfal, um dos seus poemas mais conhecidos e correspondente à fase Futurista, optei por inspirar o meu trabalho tipográfico nesta mesma fase. Na totalidade deste poema, o sujeito poético, simultaneamente:
- enaltece a grandiosidade das máquinas, da velocidade, da acção, do movimento, das novas invenções;
- critica a sociedade, os seus crimes, cinismo e profunda corrupção.

No que toca ao primeiro aspecto, e em termos visuais, decidi que o aspecto central deste trabalho seriam as “engrenagens” referidas pelo heterónimo. Engrenagens essas que estariam associadas àquele que o poeta dá a entender ser um som ensurdecedor, representado pela onomatopeia do “r-r-r-r-r-r”. Assim, criei três engrenagens cuja forma é definida pela letra “r”, em maiúscula. A letra “r” volta a ter destaque não só no primeiro verso (com um tipo de letra diferente, em negrito e num tamanho maior), como no texto da minha autoria acerca do heterónimo; este texto, repetido várias vezes, constitui o fundo da composição, destacando o “r” com a cor branca.
O dinamismo impresso pela figura das engrenagens (acentuado pelo facto destas abarcarem os versos do poeta) acaba por ir de encontro ao segundo aspecto, mas esta ideia de crítica corrosiva é acentuada pelos tipos de letra que se destacam nesses mesmos versos, incluídos no interior das engrenagens: Wide Latin e Broadway. E não esquecer que associei estes tipos de letra ao ruído do “r-r-r-r-r” e à palavra “Fúria”.
Optei por usar um fundo vermeho, de forma a criar mais impacto e a realçar a emoção das palavras e do próprio estado de espírito de Álvaro de Campos.
Os recortes geométricos a branco acentuam a ideia de maquinismo, indústria, fazendo lembrar a estrutura das máquinas.
As cores dominantes são então o preto, o branco e ainda o vermelho que, no seu conjunto, transmitem alguma frieza, crueldade, estruturação das máquinas e do novo mundo industrial.

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